Biomimética, Bioeconomia e Smart Farming

A Biomimética oferece uma alternativa inovadora para nos aproximarmos da Natureza. Sua premissa é de que o meio ambiente, e seu complexo mecanismo de subsistência, não deve ser subjugado pelo homem, mas servir de base para uma nova dinâmica voltada, sobretudo, à cooperação.

As chamadas tecnologias de Smart Farming encontram um campo fértil para a aplicação biomimética que promete, entre outros, mitigar mudanças climáticas, atender à demanda crescente por alimentos, além de vencer impasses éticos sobre a industrialização do campo e seu impacto na vida de animais e ecossistemas relacionados.

Nesse contexto, a Internet das Coisas (IoT) desempenha um papel central para promover a inovação sustentável. Através de sensores, ferramentas de geolocalização, Big Data, Cloud Computing, Edge Computing, criou-se um padrão inteligente para gerenciamento de sistemas que tem revolucionado as atividades agropecuárias.

Apenas para citar alguns ganhos, a aplicação eco-friendly da IoT aumenta a eficiência produtiva do campo, ao mesmo tempo em que diminui o volume de pesticidas e fertilizantes, a emissão de gases do efeito estufa e o desperdício de água para irrigação.

Biomimética: inovar de forma sistêmica, dinâmica, de fora para dentro

Plantas, animais e os demais seres vivos desempenham suas atividades — como nadar, voar, capturar a energia do Sol — sem nenhum tipo de intenção que não a manutenção da vida. Para tanto, nunca foi necessária a queima de combustíveis fósseis, a poluição dos recursos naturais, nem qualquer tipo de agressão ao meio ambiente. Todas as espécies, com exceção do ser humano, conseguiram sobreviver e se desenvolver de modo sustentável. E é justamente daí que parte a observação dos estudos biomiméticos para a agropecuária.

Segundo Janine Benyus, precursora da Biomimética:

“Num mundo biomimético, nossas fazendas serão como as pradarias, que se autofertilizam e são resistentes a pragas naturalmente. Para alcançar novos remédios e grãos, cientistas olharão para os insetos que têm usado as plantas há milênios para se manter saudáveis e nutridos. Nossas células solares seguirão o mesmo padrão de funcionamento das folhas…”

De acordo com Benyus, o maior aprendizado que podemos tirar da Natureza é desenvolver tecnologias que, tal como os organismos vivos, sejam adaptáveis ao meio ambiente e possam “conversar” umas com as outras. A ideia é inovar de forma sistêmica, dinâmica, de fora para dentro.

Princípios Biomiméticos

Para tanto, é importante seguir nove princípios que a Natureza utiliza para equilibrar dinamicamente os mais diversos sistemas do planeta Terra. São eles:

  • Natureza precisa do sol para existir
  • Natureza utiliza apenas a energia de que necessita (não há sobras; não há faltas)
  • Natureza encaixa a forma à função
  • Natureza recicla tudo
  • Natureza recompensa a cooperação
  • Natureza protege a diversidade
  • Natureza demanda expertise local
  • Natureza inibe excessos intrínsecos a ela
  • Natureza usa limites como uma força de poder

A ideia por trás desses princípios não sugere que tornemos a inovação algo natural propriamente dito. Eles servem apenas de base para que o desenvolvimento tecnológico seja desenhado de forma semelhante aos sistemas operacionais da Natureza e, assim, possam se desenvolver de forma menos predatória.

Bieconomia: trade-off produtividade X pegada ambiental

Atualmente, cerca de 900 milhões de pessoas encontram-se famintas ou subnutridas. E esse cenário deve ficar ainda mais grave se as projeções de aumento populacional de fato se concretizarem, nos próximos anos.

Até 2050, espera-se que o mundo seja habitado por 9,1 bilhões de pessoas, montante 43% maior que o atual (7,1 bilhões). Diante desse quadro, a pressão sobre a agricultura para aumentar a eficiência produtiva, sem comprometer o meio ambiente, é cada vez maior.

Mas junto da necessidade de aumentar a produção surge um outro grande problema: o que fazer com os resíduos? Segundo dados de um estudo coordenado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), eles podem representar até 30% da produção agrícola. Assim, dada a enorme quantidade de sobras, e a crescente demanda por alimentos que o mundo certamente enfrentará, torna-se clara a necessidade de pesquisar e investir em novas técnicas de reciclagem e reaproveitamento dos materiais restantes da atividade agroindustrial.

Um outro estudo, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), trata dos vários impactos negativos que esse acúmulo de resíduos pode acarretar. Entre eles, destacam-se a adição excessiva de matéria orgânica e de metais tanto no solo quanto na água, contaminando a flora e fauna adjacentes. Além disso, existem outras consequências negativas, observáveis a longo prazo, como o agravamento do efeito estufa, a desertificação e a desregulação do ritmo de chuvas.

Smart Farming: tecnologia sustentável

A tecnologia parece ser a única solução viável para enfrentar essa trade-off entre a necessidade de aumentar a produção e diminuir a degradação ambiental. E o estudo da Biomimética, inserida no contexto da Bioeconomia, é uma diretriz fundamental para se alcançarem soluções altamente eficientes e sustentáveis.

O uso positivo da inovação na agricultura pode ir desde a implantação de placas solares que captam a energia do Sol para abastecer outros artefatos, até o desenvolvimento de robôs que colhem frutas de forma mais precisa que o homem e avançados sistemas inteligentes de irrigação.

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Sob o conceito de economia circular é possível que o produtor agropecuário consiga ter maiores quantidades de matéria-prima sem aumentar seus gastos. A produtividade cresce vertiginosamente, enquanto a pegada ambiental é reduzida. Tecnologias desenvolvidas sob os nove Pilares da Biomimética (expostos acima) parecem resolver o dilema da produção agrícola e, mais do que isso: preservam o meio ambiente enquanto movimenta a economia.

Tempos atrás, quando inovação e agricultura estavam desconectadas, essa realidade era inimaginável. Hoje, ao contrário, ela já está se tornando uma realidade prática.