Back to Basics: quando afinal deve acontecer o desligamento do 2G e 3G?
O Brasil possui cerca de 26,8 milhões de aparelhos restritos à tecnologia 2G e outros 32,5 milhões, à 3G. Mesmo assim, algumas projeções indicam que ambas as redes seriam desligadas a partir de 2023. Em razão disso, surgem alguns questionamentos sobre a efetivação prática dessas projeções e o impacto ocasionado em nosso sistema tecnológico.
Um estudo divulgado pelo GSMA projeta uma queda vertiginosa na utilização do 2G no Brasil, nos próximos anos. A rede deve sair de 10% para apenas 1% de uso, em 2025, ficando restrita a algumas soluções M2M (máquina a máquina). Já em relação ao 3G, hoje presente em cerca de 15% dos aparelhos, a expectativa vai ainda além, sugerindo seu desaparecimento completo nos próximos 4 anos.
Mas seria isso possível em tão curto intervalo de tempo?
De maneira geral, há dois grandes motivos pelos quais o desligamento completo das redes de segunda e terceira geração não deve ocorrer de forma tão célere.
Primeiramente, as regras do 3GPP e as boas práticas do mercado indicam a necessidade de que toda rede principal de comunicação possua uma rede de contingência (fallback), capaz de garantir o mínimo de usabilidade para casos específicos.
Prova disso é que, nos Releases 13 e 14 do 3GPP, o 4G (em sua vertente LTE Advanced) passou por diversas evoluções justamente para atuar como contingência ao 5G. O mesmo, claro, vale para o 3G, e até mesmo o 2G, que servem como fallback para o 4G.
Assim, por esse raciocínio, uma descontinuação completa do 3G somente faria sentido quando a tecnologia dominante no Brasil for o 5G (e, por consequência, o fallback com o 4G), o que deve ocorrer apenas em 2030.
O segundo motivo refere-se ao fato de que a maioria dos dispositivos de quarta geração ainda necessitam da rede 3G para trafegar voz, num mecanismo denominado Circuit Switch. Mesmo com o crescimento do número de equipamentos 4G já suportando voz através de VoLTE (Voice over LTE), é esperado que ao menos 40% dos aparelhos 4G, em 2025, ainda necessitem do 3G para essa finalidade.
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Diante disso, temos que o espectro atualmente usado por 3G e 2G (dadas as suas características de frequência central e largura de canal) irá migrar posteriormente para soluções 5G/4G de Internet das Coisas, como CAT1, CAT-M1 e NB-IoT.
Para além do desligamento do 2G e 3G
A progressiva redução da base de clientes 2G e 3G esperada nesta próxima década deve motivar as operadoras a irem diminuindo os investimentos em manutenção das redes de segunda e terceira geração, que hoje representam uma importante fatia de seu passivo operacional.
Ao abrirem espaço para novas tecnologias, as operadoras conseguem remover pouco a pouco os componentes relacionados ao 2G e 3G, algo fundamental para massificar o uso das redes mais modernas e, por consequência, reduzir seu custo de implantação.
No que tange especificamente o 5G, uma outra pesquisa da GSMA projeta o Brasil como líder da nova tecnologia na América Latina, até 2025: ao menos 18% da base total de conexões móveis no país serão de quinta geração, com o México em segundo lugar (12%). Já em relação à participação do 4G, devemos passar de 76% para 81% das conexões, no mesmo intervalo de tempo.

A modernização das tecnologias de rede trará também ganhos importantes na economia de energia e abertura de espaço para mais antenas. Além disso, o incremento da economia digital, marcada pela integração transversal entre diferentes segmentos do mercado, tem feito aumentar drasticamente o surgimento de novos serviços que necessitam de redes mais robustas. Diversas aplicações passam a demandar respostas em tempo real, algo possível apenas com a garantia de muita estabilidade e elevado throughput de dados, característicos das redes mais modernas, como o 5G.
Por serem mais eficientes em interfaces aéreas, o 4G e sobretudo o 5G, são fundamentais para viabilizar todo esse dinamismo do processo de digitalização, garantindo que um número cada vez maior de usuários possa contar com uma boa experiência de uso e novos serviços.