Furtos e erros de medição de energia afetam 2,9% das receitas de distribuidoras
A produção de energia limpa a partir da mesma matriz energética é um desafio comum à maioria dos países. Pesquisas indicam que ao menos 25% do total de gases do efeito estufa seriam resultado do processo de geração de energia com base não renovável.
No Brasil, embora a matriz elétrica seja aproximadamente 86% renovável, observa-se que grande parte do que é gerado e transmitido sofre com as chamadas perdas técnicas e não técnicas, antes de chegar ao destino final.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), os custos decorrentes de furtos de energia ou erros nos processos de medição e faturamento representam 2,9% das receitas das distribuidoras no Brasil. Em alguns casos, como na Região Norte, chegam a 10,7%
- Perdas Técnicas são aquelas inerentes ao transporte da energia elétrica na rede, relacionadas à transformação de energia elétrica em energia térmica nos condutores (efeito joule), perdas nos núcleos dos transformadores, perdas dielétricas, etc. Podem ser entendidas como o consumo dos equipamentos responsáveis pela distribuição de energia.
- Perdas Não Técnicas correspondem à diferença entre as perdas totais e as perdas técnicas, considerando, portanto, todas as demais perdas associadas à distribuição de energia elétrica, tais como furtos de energia, erros de medição, erros no processo de faturamento, unidades consumidoras sem equipamento de medição, etc. Esse tipo de perda está diretamente associado à gestão comercial das distribuidoras.
Seja pela necessidade de implantar um modelo distribuído, com a inclusão de fontes mais limpas (como energia solar e eólica), seja para diminuir as perdas técnicas e não técnicas, as chamadas Smart Grids têm sido a grande aposta para conferir mais inteligência à produção, distribuição e consumo de energia.
Vantagens das Smart Grids para as concessionárias de energia
As Smart Grids são uma nova arquitetura de redes de energia elétrica, que integra e possibilita ações a todos os usuários a ela conectados. Elas fazem uso de tecnologia de ponta, como a Internet das Coisas (IoT), e permitem a transmissão e a distribuição de energia de forma descentralizada, com base em informações em tempo real ao longo de toda a cadeia.
Segundo a Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica), as redes elétricas inteligentes devem atender cerca de 74,4 milhões de usuários no Brasil, até 2030. E isso trará impacto positivo direto para as concessionárias de energia.
Com as Smart Grids, é possível identificar instantaneamente qualquer possível queda no fornecimento da rede e tomar as medidas necessárias de forma remota para restabelecer o fornecimento. Esse mecanismo não apenas diminui os custos com o deslocamento de equipes para o local da queda, mas também ajuda a prevenir fraudes e a controlar perdas de energia, bastante comuns no Brasil.
Veja também:
5G no setor de energia: mais segurança, eficiência e qualidade nos serviços prestados
Atualmente, cerca de 15% dos quilowatts (kW) produzidos no país são perdidos entre a geração e o consumo, segundo dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Com a medição inteligente, aumenta-se a precisão para identificar esses pontos de escape, de tal forma que com o mesmo nível de produção atual seja possível atender ao número crescente de consumidores com o desenvolvimento dos centros urbanos.
Outra importante vantagem das redes inteligentes é a possibilidade que elas conferem às concessionárias de mapearem as características de consumo dos clientes, facilitando o planejamento do sistema como um todo. Para que isso seja possível, será necessário substituir os atuais medidores eletromecânicos por versões digitais, que transmitem os dados em tempo real por meio de cabos de fibra ótica ou redes sem fio, sem a necessidade de deslocar técnicos para a medição pessoal.
E quais são as vantagens para os consumidores?
O sistema de Smart Grids também confere inúmeras vantagens aos consumidores. Com os medidores inteligentes, os clientes poderão acompanhar de perto e em tempo real o consumo. Isso confere mais autonomia para ajustarem hábitos e até mesmo reduzir o valor das contas, o que é interessante em termos financeiros e ambientais.
Além disso, as redes inteligentes criam uma nova dinâmica de mão dupla, em que os consumidores atuam como receptores e pequenos produtores de energia. Se, por exemplo, uma residência fizer uso de painéis solares e consumir menos energia do que produz, ela poderá armazenar (e até mesmo vender) o excedente por meio das Smart Grids conectadas à rede elétrica.
Outro avanço é que o estabelecimento de diferenças tarifárias ao longo do dia tornará possível escolher o melhor horário para utilização dos equipamentos elétricos que consomem mais energia, como chuveiros e ferros de passar, por exemplo. No Brasil, desde 1º de janeiro deste ano, a opção pela tarifa branca tornou-se disponível para todas as unidades consumidoras conectadas em baixa tensão (como residências e pequenos comércios).
Esse é um passo importante para estimular o consumo consciente, que certamente fará ainda mais sentido quando as Smart Grids alcançarem a população brasileira em larga escala.