Evolução das Smart Grids resulta de esforços tecnológicos e políticos

As Smart Grids são a grande aposta para conferir mais inteligência à produção, distribuição e consumo de energia. Com uma nova arquitetura de rede, integrando ações de todos os usuários a ela conectados, as redes inteligentes aplicam tecnologia de ponta, como a Internet das Coisas (IoT), e permitem a transmissão e a distribuição de energia de forma descentralizada, com base em informações em tempo real ao longo de toda a cadeia.

Por essa formatação multidirecional, com fluxos e integrações mais complexas, empresas e residências podem produzir agora sua própria eletricidade a partir de fontes renováveis, alavancando a descarbonização das redes, por sinal, uma das ações mais urgentes para o setor, em sintonia com o movimento que cresce mundo afora.

Por serem produzidas a partir de fontes de mais difícil controle, as energias eólica e solar, por exemplo, necessitam de mecanismos capazes de alavancar o seu máximo aproveitamento em momentos de abundância, mas também devem ser resilientes o suficiente para garantir estabilidade nos momentos de menor geração.

Esse dinamismo, característico dos sistemas distribuídos, só pode ser viabilizado através da propagação das redes inteligentes de energia ao longo do país.

Tecnologia pela geração distribuída

Pela geração distribuída, o excedente produzido é injetado na rede da distribuidora local e se torna um crédito financeiro para o proprietário do sistema. Assim, se uma família fizer uso de painéis solares, por exemplo, e consumir menos energia do que produz, ela poderá armazenar (e até mesmo vender) o excedente por meio das Smart Grids conectadas à rede elétrica.

Para tanto, é fundamental aplicar tecnologia especialmente na ponta da operação, capaz de mensurar, em tempo real, o que está sendo consumido, o que está sendo produzido, o sentido do fluxo de energia e integrar todos os dados gerados nessa cadeia para que seja possível efetuar o controle e a gestão do sistema.

Essa tarefa é executada a partir de um verdadeiro arsenal de dispositivos inteligentes e sistemas robustos que, viabilizados através do que há de mais moderno em conectividade avançada, permitem a coleta, transmissão e o processamento de dados provenientes do sistema elétrico.

Esses dados são os responsáveis por garantir o gerenciamento remoto das mais diversas etapas que compõem todo o ecossistema de geração, transmissão e distribuição de energia, viabilizando, inclusive, o acionamento de respostas automatizadas e inteligentes, em perfeita sintonia com o dinamismo do sistema.

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Mas falar em modernização do setor elétrico brasileiro não significa limitar-se a tratar das novas tecnologias disponíveis e suas aplicações. É fundamental colocar lado a lado da inovação tecnológica a modernização regulamentadora, tarifária e a oferta de serviços que acolham um novo perfil de consumidor. Enfim, é preciso falar sobre Política Energética no Brasil.

Política Energética do Brasil: uma pauta que necessita de mudanças

Na era dos prosumidores, ou seja, o consumidor que pode utilizar para si ou disponibilizar a terceiros parte da energia que ele mesmo produz, temas como digitalização das redes e atualização regulatória são centrais. Isso porque essa nova formatação operacional coloca o usuário final em destaque, com a ponta da operação passando a acumular as tarefas de geração, distribuição e, claro, o consumo de energia.

Esse movimento de modernização, ainda muito caracterizado por um esforço bottom-up, precisa inverter seu sentido, não apenas para acelerar a inovação e democratizá-la, mas também para diminuir a assimetria já instalada entre o padrão de consumo na ponta, cada vez mais digitalizado, e os provedores de serviços, ainda analógicos.

Tudo isso, claro, requer uma Política Energética pensada no longo prazo, fortemente estruturada na mudança do status-quo e efetivamente centrada na onda de digitalização por que passa o mundo todo.

A ABINEE (Associação Brasileira de Indústria Elétrica e Eletrônica) apresentou várias contribuições especificas sobre a necessidade de um efetivo programa de modernização, além de discutir alguns pilares que têm impedido a evolução tecnológica consistente de atualização tecnológica do setor elétrico.

Segundo a associação, a renovação pela qual o Brasil precisa fortalecer sua atuação divide-se nos seguintes eixos:

  • Substituição de equipamentos e instalações críticas com vida útil esgotada na Transmissão e Distribuição;
  • Implementação progressiva de medidores conectados e inteligentes para contemplar opções tarifárias mais aderentes aos custos reais de fornecimento e aos usos finais característicos de cada classe de consumidor. Estes sistemas permitem, adicionalmente, implementar programas efetivos de incentivo ao gerenciamento do lado da demanda em situações de crise energética, como a vivida em 2021;
  • Renovação da infraestrutura para permitir a digitalização dos sistemas elétricos de forma hospedar crescentes montantes de geração distribuída, principalmente solar e eólica, bem como habilitar infraestruturas críticas para novos usos, como carregamento de veículos elétrico e gerenciamento otimizado de sistemas de armazenamento de energia;
  • Integração e implementação de sistemas avançados de monitoramento de infraestrutura e gestão inteligente de ativos, incluindo tecnologias existentes de inteligência artificial, cyber segurança, transações bilaterais seguras, “blockchain” e outras tecnologias escaláveis suportadas por computação em nuvem.

O emprego dessas novas tecnologias vai na direção de atender ao objetivo da modicidade tarifária, substituindo a tradicional prática de diferir aumentos em parcelas plurianuais para oferecer diretamente a imediata redução de impactos e custos no curto prazo.

Além disso, a inovação corrobora um crescente esforço internacional em aumentar a resiliência e flexibilidade das redes de energia, de tal forma que sejam capazes de administrar uma nova dinâmica promovida pela produção de energia limpa, agregando ainda mais valor ao bem-estar social e ambiental.