Com matriz elétrica 85% renovável, Brasil deve focar na descarbonização
O Brasil é o país com a matriz elétrica mais renovável do mundo. Mesmo assim, precisa investir cada vez mais na descarbonização de seu sistema de energia. Parece contraditório, mas não é.
Pelo menos 84,4% de nossa matriz elétrica provêm de fontes renováveis, com destaque especial para as hidrelétricas. O número é bastante superior à média global, que ainda não atinge os 25%.
Até a década de 70, as usinas hidrelétricas foram responsáveis pela geração de quase 90% da energia consumida no país. Hoje, somam aproximadamente 65% do abastecimento nacional. Essa queda percentual está relacionada ao rápido crescimento na participação de outras fontes renováveis na geração de energia, com destaque para as fontes eólica e solar.
Projeções indicam que, até 2050, a fonte eólica pode representar até 40% do total produzido de energia no Brasil, seguida pela solar fotovoltaica, com até 12%. Isso em um cenário de demanda por energia três vezes maior que o atual.
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Mas o grande desafio por trás da expansão dessas novas fontes está em garantir a manutenção do suprimento mesmo diante de demandas flutuantes ou de condições de geração de energia submetidas às variações do tempo. Diferentemente das hidrelétricas, que podem armazenar o potencial de geração em grandes represamentos de água, as fontes eólica e solar apresentam capacidade de armazenamento mais complexa.
Por essa razão, o Brasil, mesmo sendo líder em energia renovável no mundo, precisa investir cada vez mais em tecnologias modernas capazes de sincronizar o processo de descarbonização das redes ao atendimento crescente de demanda por energia e suas respectivas oscilações.
Mudanças climáticas afetam potencial das hidrelétricas
Nos últimos 30 anos, o Brasil perdeu quase 16% de sua superfície de água, o que representa 3,1 milhões de hectares, uma redução equivalente à 150% da área da região Nordeste. Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG/OC).
Com o potencial hídrico em risco, associado ao incremento das fontes eólica e solar, expandimos a fatia de geração de energia com base em fontes renováveis variáveis, as quais necessitam de um sistema cada vez mais flexível e integrado às flutuações de demanda.
As redes atuais não são capazes de absorver todo o potencial energético que vem crescendo no país a partir da geração distribuída e das micro redes que se formam.
Duas frentes pela descarbonização
Para contornar o problema, é necessário garantir a expansão das tecnologias digitais pela descarbonização do ecossistema elétrico, atuando especificamente em duas frentes:
- A primeira, parte da consolidação de um planejamento estruturado para a escalada das redes inteligentes de energia no Brasil. Sem elas, é impossível adaptarmos nossos sistemas a uma nova dinâmica de geração, consumo e armazenamento cada vez mais flexível.
- A segunda, por sua vez, está ligada à modernização e atualização das políticas tarifárias brasileiras, sobretudo na baixa tensão, responsável por 99,8% dos consumidores e 48% do consumo de energia elétrica no pais.
Por sinal, uma das razões para o recente avanço da energia solar entre os consumidores brasileiros está justamente na falta de opções de produtos e de sustentabilidade de tarifas e preços oferecidas pelas distribuidoras, muito em razão da ausência de medidores inteligentes na ponta da cadeia de consumo.
Medições e tarifas inteligentes permitem a implementação de um novo mercado competitivo de serviços de energia. O movimento atende o padrão de demanda de consumidores e cidadãos, cada vez mais engajados com o que consomem e o impacto gerado na sociedade e no meio ambiente.
A tecnologia garante mais transparência, previsibilidade e sustentabilidade para o consumidor final que, a partir dela, pode ampliar seu leque de escolhas e alternativas para serviços que atendam com mais efetividade as suas necessidades atuais.