Digitalização, energia e sustentabilidade: uma realidade possível?

O processo de digitalização passa por rápido crescimento em escala global. Nunca antes o mundo contou com tantos dispositivos inteligentes conectados. Projeções indicam que, até 2025, serão pelo menos 27 bilhões deles.

Mas todo esse crescimento (alavancado especialmente pela Internet das Coisas e pelo advento do 5G) pressupõe uma elevação massiva no consumo de energia, não apenas para manter a operação dos dispositivos, mas também para garantir a absorção de um volume de dados cada vez maior.

Segundo Marina Martinelli, doutoranda em 5G na Unicamp, em palestra no evento 5×5 Tec Summit 2022, previsões indicam que o consumo de energia dos data centers passará de 200 TWh, em 2016, para 2.967 TWh, em 2030.

Esse maior consumo acontece justamente em um momento em que os aspectos regulatórios e a consciência social acerca da sustentabilidade atingem um nível de estruturação cada vez mais robusto, de tal forma que imaginar progresso com base na sobrecarga ambiental tornou-se praticamente impossível.

Em vista desse cenário, surge o questionamento: é possível sintonizar o processo de digitalização e a consequente elevação no consumo de energia com um modelo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável?

A resposta: sim!

Digitalização: tecnologia pela sustentabilidade

O desenvolvimento tecnológico digital chegou a um ponto interessante: a mesma tecnologia que consome mais energia é também aquela utilizada para viabilizar um consumo mais sustentável.

Prova disso é a rápida expansão das redes inteligentes (smart grids) que, através da digitalização e de todo o potencial do 5G, permitem uma rápida reformatação dos sistemas elétricos atuais, tornando-os muito mais eficientes, seguros, dinâmicos e, claro, sustentáveis.

Esse movimento ganha fôlego em razão da incorporação da conectividade avançada a uma série de novas tecnologias com aplicações das mais diversas naturezas. No setor elétrico, por exemplo, já é possível executar de forma 100% remota e com máximo controle uma série de atividades que antes requeriam a presença física das equipes técnicas. Falamos, por exemplo, dos processos de corte e religa de energia e da medição via medidores inteligentes.

Além disso, com a construção de redes flexíveis digitais, é possível incorporar novas fontes de geração de energia limpas, como a eólica e a solar, de tal forma a diminuir a pegada ambiental de toda a rede de distribuição e consumo.

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Um outro aspecto muito importante nesse sentido é a estruturação de um novo arcabouço regulatório do setor energético, que vem passando por fortes transformações nos últimos anos. Diante de um mercado mais livre, o consumidor ganha espaço para tomar decisões com mais racionalidade, ajudado pela disponibilização de dados de consumo em tempo real. Dessa forma, garante-se muito mais sustentabilidade e redução do valor das contas.

No Brasil, a partir de 2024, as empresas de alta e média tensões poderão participar desse mercado livre de energia, tendo a possibilidade de negociar o preço da eletricidade. Nos anos subsequentes, a tendência é que esse modelo se espalhe para todos os outros perfis de consumidores.