Veículos autônomos: do chão de fábrica para as ruas
O universo 5G já é realidade no Brasil e no mundo. As aplicações da tecnologia, até então limitadas a discussões teóricas, deram um salto para a realidade, com um número crescente de casos de uso se espalhando em diferentes contextos. Dentro das diversas inovações alavancadas pela rede 5G, muito se comenta sobre os veículos autônomos e suas variadas aplicações, com impacto direto no ecossistema dos transportes em geral, seja na esfera pública, corporativa, industrial e até mesmo na esfera individual.
Mas antes de imaginarmos um cenário em larga escala, com carros transitando por ruas e estradas sem o comando físico dos motoristas, é preciso entender que, para além da tecnologia, há uma série de entraves legais que devem ser vencidos. Afinal, o mundo jurídico precisa de tempo para se adequar às novas formatações construídas pelo desenvolvimento tecnológico.
Apenas para efeito de uma rápida reflexão: no caso de uma eventual batida entre dois carros autônomos, de quem seria a culpa? Do passageiro proprietário do veículo? Do fornecedor que desenvolveu a tecnologia?
Discussões à parte, cabe destacar que o primeiro caminho até a massificação dos veículos autônomos começa pelo chão de fábrica, em um ambiente privado, com infraestrutura 100% capaz de alavancar o trabalho dos denominados AMRs (do inglês, Autonomous Mobile Robots).
Essa tecnologia, intrinsecamente ligada à consolidação do 5G, precisa apenas de sensores e scanners para se locomover. Diferentemente dos AGVs ou Automated Guided Vehicles (uma outra espécie do gênero veículos autônomos), os AMRs não têm sua operação limitada a um ambiente controlado, uma vez que suas próprias câmeras e sensores, equipados com Internet das Coisas (IoT), permitem seu deslocamento livre, 100% autônomo e inteligente.
Mas como essa inteligência é desenvolvida na prática?
Primeiramente, precisamos compreender que a viabilização dos AMRs está diretamente ligada ao 5G, justamente porque apenas essa tecnologia de rede é robusta o suficiente para processar com elevada velocidade e confiabilidade todo o enorme volume de dados envolvidos nesse tipo de aplicação.
Por trás de cada centímetro percorrido pelos robôs, há o trabalho incessante de softwares inteligentes, que processam as informações do ambiente, obtidas pelos sensores e câmeras, transformando-as em respostas de tempo quase real.
É justamente esse mecanismo que capacita o AMR a desviar de obstáculos e até mesmo calcular rotas mais eficientes dentro de um trajeto programado. Por sinal, quanto maior for a densificação de robôs e mais complexo o ambiente em que eles trafegam, mais rápidas devem ser as respostas geradas pelos softwares inteligentes.
Nesse sentido, cabe lembrar que a rede 5G, em comparação à sua versão anterior (4G), manifesta até 50 vezes mais velocidade, 10 vezes menos latência (tempo de resposta), 1000 vezes mais capacidade e altíssima confiabilidade (em níveis superiores a 99,9999%). Em outras palavras, esses atributos fazem da tecnologia 5G um requisito imprescindível para a viabilização dos AMRs.
Ajustes finos garantem aplicações ainda mais avançadas
É também importante destacar que as próximas especificações do 5G, especialmente sob os Releases 16 e 17 da 3GPP, vão dar passos ainda mais revolucionários no que tange a capacidade da nova rede de acomodar aplicações cada vez mais avançadas.
Esses novos protocolos são especialmente importantes para o fino ajuste das atividades desempenhadas pelos robôs autônomos, uma vez que estabelecem o funcionamento da IoT dentro do 5G.
Desse modo, surgem especificações para sensores, direções remotas e autônomas, diretrizes para redução de interferências, além de aplicações direcionadas para o ambiente industrial, tudo isso com base em um padrão mínimo tido como referência para uma comunicação de baixíssima latência e ultra confiabilidade (URLLC).
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Um outro grande avanço esperado especialmente com o Release-17 é sua capacidade de garantir a localização de objetos com uma margem de erro na ordem de poucos centímetros. Essa é uma verdadeira revolução para a indústria, certamente tão grande quanto foi o Google para o mundo virtual.
Um ajuste com esse nível de detalhamento é capaz de redesenhar toda a dinâmica operacional do setor industrial, viabilizando o armazenamento desestruturado de partes e componentes. São ganhos inéditos para um ambiente sempre em busca de mais eficiência e custos menores, capazes de elevar o universo logístico para um patamar jamais experimentado.