A próxima Revolução Industrial virá da Biotransformação

Sob o tema “Nature-Inspired Technology and the Future of Manufacturing”, a segunda edição do Global Manufacturing and Industrialization Summit (GMIS) reuniu, na semana passada, líderes globais de vários países, industriais e membros da academia em Yekaterinburg, na Rússia, para debaterem os próximos passos da Quarta Revolução Industrial. O evento é uma iniciativa do Ministério de Energia e Indústria dos Emirados Árabes Unidos e da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), da qual o Brasil é membro desde 1985.

Entre os principais temas abordados, o GMIS 2019 destacou algumas das maiores inovações em Biomimética e o modo como as manufaturas podem se inspirar em sistemas da Natureza para resolver problemas humanos complexos. A iniciativa vai ao encontro da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e fomentou uma série de debates sobre economia circular, segurança alimentar, cidades futuras, segurança cibernética, evolução da impressão 3D, futuro do trabalho, entre outros aspectos fundamentais para o desenvolvimento industrial das próximas décadas.

Créditos: wam.ae

Entre os participantes de maior destaque esteve o presidente da Rússia Vladimir Putin que ressaltou a necessidade de as indústrias serem menos focadas no uso intensivo de recursos naturais e mais eco-friendly:

Estou convencido de que garantir ar limpo, água, comida, qualidade e expectativa de vida para bilhões de pessoas exige tecnologias e dispositivos técnicos drasticamente novos, que consomem menos recursos e sejam muito mais ecológicos. Essas soluções de engenharia científica, que são extremamente eficientes, nos permitirão encontrar um equilíbrio adequado entre as esferas bio e techno. Isso inclui as chamadas tecnologias inspiradas na natureza. Elas imitam processos e sistemas naturais. Elas seguem as leis da natureza.

Em colaboração com o Instituto Kurchatov, a Fundação Skolkovo e o Ministério da Indústria e Comércio da Rússia, o GMIS 2019 também anunciou sua segunda iniciativa para impulsionar a pesquisa e a implantação de tecnologias inovadoras, que levem à transformação tangível das indústrias. Com abrangência global, esse movimento visa ajudar as manufaturas a se transformarem sem agravar os desafios ecológicos, como o esgotamento de recursos e as mudanças climáticas. A iniciativa contará com trabalhos de pesquisa através de uma rede acadêmica, com foco em Biomimética e tecnologias industriais sustentáveis ​​inspiradas na natureza.

O Processo de Biotransformação das empresas

Um recente estudo científico conduzido em empresas alemãs demonstrou como funciona o processo de Biotransformação das empresas. Os resultados foram apresentados em um workshop da ManuFUTURE , em Bruxelas, pelos professores  Bauernhansl e pelo doutor Wolperdinger.

Segundo os achados, a Biotransformação segue três estágios: a bioinspiração, a biointegração e a biointeligência.

  • Os chamados produtos bioinspirados ocupam a fase inicial da Biotransformação. Eles já são amplamente encontrados nos mais diversos setores da economia, sobretudo nas indústrias. Tomam forma como braços e garras robóticos, por exemplo, que lembram a tromba de elefantes ou câmeras de vigilância inspiradas na visão dos insetos. A bioinspiração é também comumente chamada de biônica e, basicamente, busca nas estruturas vivas a inspiração para o desenvolvimento de aplicações industriais e científicas.
  • No segundo momento, o que funcionava apenas como inspiração começa a integrar o processo de inovação propriamente dito. Os produtos passam a conter em sua formulação ou em seu design o aspecto biológico inicialmente analisado. Como exemplo, podemos destacar os materiais de autocura, hoje presentes em alguns tratamentos utilizados pela Medicina.
  • “Enxame de Drones” – inteligência biointegrada

    Por fim, como fase final do processo de Biotransformação, alcança-se a inteligência. É nesse momento que ocorre, de fato, a fusão entre a Biologia, a Tecnologia da Informação e a Engenharia. Essa etapa ainda não está amplamente difundida na indústria, mas os primeiros sinais podem ser vistos em sistemas computacionais biomiméticos que utilizam a sinapse nervosa humana como referencial de processamento ou em tecnologias de Machine Learning e Sistemas Autônomos Cooperativos (também conhecidos por robótica de enxame).

Como se nota, seja na Rússia, na Bélgica ou no Brasil, os debates sobre as novas tecnologias bio-inspiradas, cada vez mais, tomam conta do cenário manufatureiro global. Através delas será possível conciliar as metas de sustentabilidade propostas por acordos internacionais, como o Acordo de Paris, e, ao mesmo tempo, fomentar o crescimento das economias e a geração de empregos.

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Nessa tarefa, a Biomimética impõe-se como uma ciência fundamental para efetivar o processo de Biotransformação dos processos produtivos, inserindo-os no conceito de economia circular em que a salvaguarda de recursos naturais e o reaproveitamento de resíduos biológicos diminuem a pegada ambiental das indústrias e estimulam o nascimento da chamada bioeconomia.